Tuesday, August 29, 2006

amanhece
que fazer com o dia
este círculo de luz
a abrir-se em redor do corpo
a tornar visível o silêncio

exposta
a solidão é embaraçosa

Wednesday, August 23, 2006

hoje vi-te
cair de joelhos aos olhos do senhor
entregar ao seu coração de fogo
todos os pecados do dia
em sal de lágrimas todos os medos
em prece murmurar
ouvi-me senhor
afundar o corpo humilíssimo
diante da mão misericordiosa
suspensa
do senhor
que no céu como na terra
fará a sua vontade
e por isso nada é tua culpa
que se fosse seria perdoada
pelo milagre do arrependimento sincero













Monday, August 14, 2006

nos montes do norte
as árvores agitam-se ainda
presas ao chão de pés fincados
agitam os troncos contra o céu
e nós aqui
nos arrabaldes desta cidade
enterramos as mãos nos bolsos e rimos
à noite saimos de casa
procuramos quem nos dê a mão
ou um abraço
quem nos surpreenda na noite
quem por amor nos liberte deste chão

Monday, August 07, 2006

são líquidos os teus olhos no meu corpo

do teu amável corpo
serão feitos os meus dias
do desejo que trago nas mãos
deste calor desta angústia
desta violência contida
limitada até à pele
meu amor
do teu amável corpo
será feito o meu prazer

Friday, August 04, 2006

é preciso abrir um rasgão na carne
não acredito na alma mas no sangue
não é etéreo o que anima este corpo
é quente rubro de desejo e de medo
um mistério líquido
visível e indecifrável

alheio