Friday, October 27, 2006

houve um dia em branco
vinte e quatro horas recolhidas
a dois metros quadrados de terra
guardado por anjos de pedra
nasceu o silêncio um veludo azul
alastrou das pesadas asas até ao chão
inundou os caminhos
apagou os nossos passos
impediu-nos o regresso

Wednesday, October 18, 2006

gosto da palavra bátega
um mar a cair do céu
a derrubar-se contra as janelas
a querer invadir a casa
uma palavra inteira
como um cavalo
um trovão de outono
a iluminar o interior
a tua mão no meu peito
um estrondo de vento

Wednesday, October 11, 2006

nas mãos morrem os rios
que te nascem no centro do corpo
águas fundas lagos
perfuram caminhos procuram
na carne abrem espaços
ocupam segredos medos
alagam os ossos trazem frios
correm até aos punhos fechados
guardados nos bolsos regressam
sempre a mesma água
a mesma procura a mesma morte

Monday, October 09, 2006

há em ti uma perpétua madrugada
hora em que um passo é decisivo
para que nada aconteça
um início de luz na noite
ou o fim do escuro que acoberta

quando atreveres os pés à caminhada
colhe flores e ervas
guarda o pó da estrada
que ele seja da tua coragem o testemunho
que dele chegues coberto à primeira casa

Sunday, October 08, 2006

do dia de hoje resta o céu
a aragem fria a fechar a tarde
o teu vestido colado ao banco a tua voz
a água na boca do homem
os passos de regresso à praia
um pássaro que voa dos olhos contra o céu
o mar a crescer para terra

Thursday, October 05, 2006

chega-se à mesa já sem fome
ficou o coração para trás
num qualquer dia de sol ou frio
sabe-se lá em que paragem se perdeu
em que momento se esqueceu do nome
da palavra que vivia dentro da alegria
e o obrigava a chegar esfaimado à mesa