Wednesday, March 17, 2010

de tempos a tempos passa no ar o teu perfume
quando os dias são muito frios
ou as mãos não encontram o rumo do corpo
quando um pássaro pousa à janela aberta ao sol
ou mesmo quando o mar mostra um azul mais forte
não vive a felicidade sem a marca da tua ausência

passa o teu perfume e eu sinto uma voz
um susurro na pele uma presença no corpo
de tempo a tempos um segundo de vida és tu

Tuesday, December 08, 2009

Agarrado aos troncos das árvores
Um manto verde de palavras
puro húmido aveludado quente
espera o momento em que a criança
distraída da fauna dos montes
eleva o seu riso na montanha

Sunday, July 26, 2009

concentras no corpo antigo
a força da casa
a bondade
um pássaro sábio

Monday, September 01, 2008

assalta-me a comoção de um abraço urgente
apertar o corpo contra o medo do minuto seguinte
ou dos muitos anos que virão inquinados
por este gesto repentino de entrega nos teus braços

Wednesday, June 25, 2008

cravar uma faca no centro das mãos
não é tarefa para todos os dias
por vezes a casa está habitada
ou é dia de estender o corpo na erva

é decisão tão súbita
que não se avisam os amados
e eles chegam incautos e abraçam-nos
tornando impossível tarefa tão simples

Monday, April 21, 2008

tapa o medo com o corpo
enrola-se de joelhos na boca
mãos abraçadas ao peito
não demora que adormeça
no sono a possível vida

Friday, February 22, 2008

a mancha de terra
avoluma-se sobre o corpo
uma boca treme húmida
no final da tarde
bastava que te mordessem
para que do sangue jorrasse
ávida a vida