houve um tempo em que os pássaros habitavam as casas
um tempo em que o sol não se punha
e a luz carregava de excesso os minúsculos defeitos da pele
foi o tempo em que a terra negra dos jardins avançou
até à praia em marés férteis inundando o mar
foi nesse tempo que restou esta ilha de água
que hoje atravesso com o meu arco de solidão

o corpo espera sentado a passagem da vida
e já agora mantém o silêncio
toda a palavra é um perigo
quando se carrega uma bomba de sangue
a mais de sessenta explosões por minuto